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Foto do escritorMarina Tipo Ruim

#SOMOSTODOSTIPORUIM


Um vídeo cheio de ódio foi postado pregando que as pessoas precisam ter uma atitude de amor. Bem estranho, mas ok.

Só que a partir dali começou-se um movimento lindo de #somostodostiporuim

Me sinto na obrigação de comentar tamanha demonstração de carinho dos meus leitores, e mais do que isso, dos meus amigos. Quem me segue sabe muito bem qual a minha posição em relação ao diabetes. Todo mundo sabe, ou acha que sabe, e o perigo mora naqueles que ACHAM.

Quando eu criei o blog na verdade estava criando uma página de facebook com o objetivo de ser um diário pessoal. Sempre gostei de escrever, e comecei com esse hábito quando meus pais se separaram, meu pai traiu minha mãe e eu “flagrei” tudo isso. Com os meus 13 anos mais ou menos, comecei a escrever diários para me sentir mais aliviada, tirar a bola de pelos que insistia em morar na minha garganta. Me fazia muito bem escrever. E escrevendo, tomei gosto pela leitura. Lendo, passei a escrever mais e mais. E nunca mais parei. Fiz parte de clube de cartas, conheci gente legal, me meti em super roubadas, criei um site sozinha, do zero, ainda na época onde o google nem existia! Escrever já fazia parte de mim, mas a internet fez tudo isso fazer parte da vida de várias pessoas.

Quando vc escreve em uma agendinha com um cadeado em formato de coração e vc leva a chave com vc para todos os lugares pois não quer, em hipótese alguma, que alguém leia sobre a sua vida, vc tem devaneios só seus. Certos, errados, loucos, coloridos, insanos...não importa. São só seus. Mas daí vc passa a escrever em um diário aberto, público, onde pessoas de outros países e de outros continentes conseguem simplesmente “folhear” a sua vida, abre-se um precedente para julgamentos. Tudo que é público torna-se: PÚBLICO. Ser público é, a grosso modo, ser de todo mundo. Então tomei a decisão de abrir a minha vida e meus devaneios para as pessoas de qualquer canto no mundo. Surpreendentemente hoje são 12 mil pessoas que vem, diariamente, de vários cantos do mundo para dar uma olhadinha no meu diário secreto.

Mas como dizem por ai “Nem Jesus agradou todo mundo”, o que eu posso dizer? Nada além de que não sou Jesus, e muito menos de que quero ou tenho a pretensão de agradar. Mas sofrer um "PRECONCEITO INTELECTUAL" É INADMISSÍVEL.

Dito isso e explicado o motivo do blog, vamos continuar esse texto que vai longe...

A minha visão da doença é a seguinte: Não é fácil. Nem pra quem é diabético e nem para os familiares, não é fácil para o amigo, para o namorado, pra ninguém. Quem sente que é, muito que bem, acho incrível pessoas que conseguem simplesmente viver absolutamente em paz todos os dias com a montanha russa glicemia que é a nossa vida. Dá pra ser normal? Não. Vc tem um órgão que não funciona e precisa de medicamentos para se manter vivo. Dá pra ser feliz? Sim. Sempre. Dá pra trabalhar, viver, namorar, viajar, estudar? Sim, deve-se! Então do que é que vc tanto reclama?

Reclamo dos intervalos “normais” da nossa vida. Eu vou estudar como uma pessoa normal, mas preciso pensar em tudo que envolve a minha doença. Tenho hipos noturnas que podem me matar. Preciso gastar parte do meu dinheiro em remédios. Tenho candidíase por causa da diabetes e minha periquita coça pra caralho no meio da rua. Preciso fazer exames a cada 3 meses. Falta insumos nos postos. Meus pais precisam me ajudar financeiramente o tempo todo a manter a qualidade do meu tratamento.

“Vá até um hospital público e veja o que é doença de verdade.” Não preciso. Tenho exemplos em casa, dentro da família, mas o sofrimento deles não anula o meu sofrimento. A dor do outro não é maior e nem menor que a minha dor. Hipocrisia dizer que é.

“Pare de reclamar da vida e seja feliz.” Quem foi que disse q eu não sou? Se vc não puder reclamar do que te irrita vc vai reclamar do que? Só quando vc tiver sofrendo fome no meio da África? Só quando vc estiver moribundo na cama de um hospital? Não existe isso.

Vc acha que Sandy e Neymar não tem o direito de reclamar da vida pq eles “aparentam” ter uma vida maravilhosa, perfeita e sem problemas? Cada um tem os seus problemas, dentro do seu universo, e vc NÃO É NINGUÉM NESSA PORRA DE MUNDO PARA JULGAR OS PROBLEMAS DO OUTRO.

Quando criei o blog eu queria expor os meus problemas.

Engraçado que 12 mil pessoas se identificaram com eles. Engraçado que cada esse público cresce a cada post, cada dia, cada desabafo. Engraçado que essas pessoas me acolheram na vida delas. Engraçado que eu me sinto mais feliz por saber que posso contar com essas pessoas quando eu me sentir desanimada. Engraçado que recebo muitos depoimentos de mães me agradecendo pelas descrições tão fortes dos sintomas de uma hipo/hiper, pois elas não sabem o que o filho sente. Engraçado que tem famílias viajando mais de 900km para me conhecer pessoalmente, pq elas julgaram importante que suas crianças tenham contato pessoal comigo. Engraçado que eu sinto que eu faço o bem para o próximo. Eu faço sim.

Nesse mundo de blogs o que vale é curtida? Nesse mundo de blogs o leitor é um número? Nesse mundo de blogs copiar conteúdo é normal? Nesse mundo de blogs posar de ajudante ao próximo é muito mais fácil do que “efetivamente” ajudar?

Nesse mundo de blogs união é o que se menos tem? Se as respostas para essas perguntas for sim, sinto muito, a partir de hoje eu deixo de ser “Marina Barros, blogueira” e passo a ser “Marina Barros, DM1”.

Eu divulgo concurso de outros blogs, eu divulgo textos de outros blogs, eu divulgo picnics de outros blog, eu divulgo outros blogs, divulgo pessoas, divulgo campanhas.....eu não estou aqui sozinha. Eu não faço isso por ibope, não faço isso pra ganhar curtida. EU FAÇO ISSO PORQUE QUERO UNIR AS PESSOAS. Eu faço isso pq acho importante que as pessoas tenham o máximo de acesso a conteúdos diversos.

A coisa que me orgulho do blog não foi ter escrito um livro. Foi ter criado um grupo de whatsapp onde as pessoas se ajudam TODOS OS DIAS. Elas se escutam, se aconselham, se abraçam, se mimam, se protegem, se amam......

Eu posso hoje deletar essa página de facebook pq eu tenho na minha consciência que conseguimos fazer diferença no mundo de algumas pessoas. E digo CONSEGUIMOS pq eu não fiz isso sozinha. Tudo isso tem um pedacinho de cada leitor. Cada pessoa que vem aqui ler, cada uma que comenta, cada mensagem escrita, cada conselho, cada treta, cada vírgula desse blog foi construída por todos nós, juntos.

A minha doença não é melhor que a sua. Eu não sou melhor que vc. Seu tratamento não é pior que o meu. Sua alimentação não é pior que a minha. Estamos TODOS NO MESMO BARCO. Enquanto remarmos em sentidos diferentes ficaremos flutuando em círculos.

Unir as pessoas. Esse é o meu objetivo. União.

Eu só queria poder pegar na mão de cada um de vocês e dizer “Cara eu sei que eh difícil mas vc vai conseguir. Tenha paciência. Todo mundo erra uma dose de insulina. Todo mundo sente dificuldade em comer regrado. Todo mundo passa pelas fases de aceitação. Mas vai ficar tudo bem. Vc vai ficar bem.”

É ok vc sentir medo, e se sentir cansado. É ok vc pensar em desistir, pensar q não vai conseguir.

PORÉM, É ok vc sentir que tudo é fácil, que nada te impede de fazer as coisas. É ok vc ser feliz o tempo todo. É ok não sentir raiva alguma da doença, e é ok vc se sentir positivo o tempo todo. Não há nada de errado nisso. Porque haveria de ter algo errado com alguém que pense diferente de vc?

Cada um viveu uma história dentro do seu universo com o diabetes e a última coisa que podemos é julgar a forma como cada pessoa se sente em relação a isso.

Eu não venho aqui pregar que “vc precisa ser triste, vc precisa odiar sua doença, vc precisa chorar todos os dias, vc precisa ser negativo”. Eu venho aqui falar “VC PRECISA SENTIR O QUE QUISER SENTIR SEM MEDO DO Q OS OUTROS FALAR”. E eu sinceramente acho que as pessoas se sentem confortáveis com isso.

Eu costumo dizer que as minhas dificuldades com o DM de 16 anos de diagnostico são bem diferentes das dificuldades de alguém que tem DM há 40 anos. As dificuldades de alguém com 3 anos de diagnósticos são diferentes das dificuldades de alguém com 16 anos de DM, e totalmente diferente de alguém com 40 DM. Uma pessoa com 40 anos de DM passou perrengues tensos.

Medir glicemia no xixi, seringa de vidro e, POSSIVELMENTE, um péssimo controle devido à falta de tecnologia. Uma pessoa como eu, com 16 anos de DM passou perrengues BEM MENORES. Medir a glicemia capilar, aplicar insulina com caneca, quase nenhuma opção de comidas diets. Uma pessoa com 3 anos de DM entrou pra essa vida com a promessa de um medidor que não fura os dedos (Freestyle Libre), bomba de insulina com sensor de glicose e uma prateleira cheia de comidas zero açúcar para fazer a alegria do gosto do freguês.

É justo julgar a forma como cada um encara a doença? Não acho.

Entendam que o mundo só vai melhorar de verdade quando os humanos perceberem que existe muita diferença entre a nossa raça, e que sermos diferentes não é ruim. O mundo só vai de fato melhorar quando a gente parar de fazer o bem ao próximo até onde nos convém. O mundo só vai realmente melhorar quando a gente souber, SINCERAMENTE, respeitar o próximo.

Falta um pouco de alinhamento entre os discursos postados por aí com uma linha de raciocínio criativa e realmente lógica.

Posta-se "sejamos felizes! parem de mimimi. nada mudou na minha vida depois do DM" e 3 dias depois vem uma foto da glicemia alta e uma bela legenda contendo: "que saco, esqueci de corrigir, nao sei o q eu fiz de errado, #odio". Uai, pra onde foi a tua felicidade constante?

No final, acho que não somos tão diferentes assim, não é, meu bem?

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